A decisão de morar no interior

 

A vontade de sair de São Paulo já existia. Não sei exatamente há quanto tempo. Mas na verdade, era só uma vontade como, por exemplo, ir a Paris ou ter uma crise de ansiedade nas Maldivas. Eu queria aquilo para algum dia na minha vida. Estava cansada de São Paulo e levando uma vida de acordar e dormir trabalhando pra pagar uma conta que eu (também) não queria ter. De repente, me vi refém de morar em SP.

Em 2012, depois da morte do meu pai, a vontade começou a percorrer um caminho mais claro dentro de mim. Em 2014, depois de me separar, comecei a achar aquilo um negócio viável. Queria muito dar uma vida melhor para os meus filhos: deixá-los mais livres, ter um jardim, encarar pouco trânsito, dormir noites inteiras de sono…

Enquanto amadurecia aquilo na cabeça e no coração (ficar mais longe dos meus amigos fisicamente era um problema pra mim), descobrimos que Matheus (meu filho mais velho) tem um transtorno de processamento auditivo central (também conhecido como PAC). A grossíssimo modo, isso quer dizer que o processo de absorção de conteúdo dele é mais demorado do que o considerado “normal”, “padrão” (ou qualquer outra palavra horrorosa dessas, capazes de nos rotular. E como é duro a gente perceber que o mundo quer ditar inclusive o seu ritmo).

Em uma das consultas, um dos médicos disse para nós:
“Mãe, pai, escola pequena, classe com poucos alunos, lugares mais tranquilos”.
Pronto. Era aquilo. A partir daquele momento, eu tinha a vontade e a necessidade de entregar mais para os dois, do que aquilo de ver a vida acontecer da janela do 13º  andar de um apartamento em São Paulo.

A busca pela casa durou 15 dias até encontrarmos o condomínio onde queríamos viver. Em 45 dias estávamos de casa nova, em Jundiaí.

Dois anos depois, tenho uma certeza tão absoluta quanto a que vamos morrer: a gente precisa buscar qualidade de vida. Quem vive em são Paulo sabe que vive mal. Mas, a gente só entende o quão mal depois de olhar de fora, de outro ponto de vista.

Em dois anos vi meus filhos evoluírem incrivelmente como pessoas. Conviver com outras crianças nas ruas de um condomínio só teve um lado: o positivo. Noções de respeito, limite e regras foram rebootados. A vida “livre na rua” é outra.
Trocamos horas de ipad e eletrônicos por horas de futebol, pega-pega-ladrão e muito esconde-esconde.  Ao invés de trancados, eles vivem livres e andam kms e kms de bicicleta por dia. Ficam mais cansados, dormem melhor e muito daquela ansiedade típica de São Paulo acabou.

Agora, vejo cada vez mais famílias fazendo esse movimento de vir para o interior. E converso com profissionais de psicologia que me dizem com frequência que, cada vez mais cedo, as crianças desenvolvem ansiedades e transtornos provenientes dessa vida corrida, maluca, estressante, onde eles (tão pequenos) têm que cumprir uma agenda impossível em nome de que? Sucesso profissional, financeiro. Ser bem sucedido. Lá no futuro. Precisa saber nadar, falar inglês, espanhol e com 15 anos, tem que estar pronto para decidir o que fará o resto da vida. Não é muito, não?

Bom. Se você está nesse momento de pensar a sua qualidade de vida, uma coisa eu posso te assegurar com muita certeza: você não vai se arrepender.